A revolução digital no agronegócio auxilia o trabalho nos campos, mas também exige uma mudança na mão de obra
O Brasil soma mais de 18 milhões de trabalhadores rurais, segundo pesquisa realizada em 2019 pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP, em parceria com a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz.
Mas, apesar de manter a importância na função, o homem do campo não é mais o mesmo, pois o que se faz na fazenda atualmente não se compara com o que se fazia há alguns anos.
Não basta mais ter disposição e saber manejar a enxada. Com a chegada da tecnologia e a transformação digital, o trabalhador agrícola precisou se reinventar. Por isso, o estudo da USP aponta ainda um movimento no aumento de melhora do nível médio de qualificação dos agricultores, medida necessária para se manter na disputa pelos empregos do setor.
As fazendas conectadas trazem equipamentos que substituem o trabalho braçal, mas que pedem mão de obra para operá-los. Assim, o trabalhador rural sai do chão de terra e é levado a cabines operacionais. O trabalho fica mais leve, mas, por outro lado, exige maior especialização.
A tecnologia chegou ao campo
Em 1980, toda a colheita da cana-de-açúcar no Brasil era feita por boias-frias. Atualmente, 92% da cana é cortada por máquinas, conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento.
Mas, além do maquinário que não para de se modernizar, a conectividade vem ganhando destaque nas operações e produção rural. Entre outras tecnologias, as fazendas conectadas têm feito uso da Internet das Coisas (IoT), que possibilita uma conexão entre máquinas e uma troca de dados imensurável.
Não é mais necessário para o dono do negócio destacar pessoas para o trabalho in loco, supervisionando a lavoura, medindo a qualidade do solo, estimando o melhor dia para o plantio. Tudo passa a ser automatizado.
A irrigação, por exemplo, é realizada de acordo com as previsões climáticas. Atualmente, sensores mensuram a fertilidade do terreno, drones acompanham o crescimento da plantação e todas essas informações chegam à tela do operador em tempo real para que possa controlar as operações a distância.
Dessa forma, a revolução digital aponta problemas e traz respostas rápidas para o campo de forma nunca antes imaginada. Porém, por trás dessa tecnologia toda, é necessário a intervenção humana.
É nesse contexto que entra o novo trabalhador rural, que deve saber operar as máquinas, monitorar telas, verificar quando e onde é preciso fazer ajustes e intervenções, e até mesmo ler os dados obtidos por Big Data.
Entretanto, além desses novos profissionais, ainda há espaço para os trabalhadores mais tradicionais, que fazem a parte operacional no campo, como os tratoristas. E com a tecnologia, eles têm mais conforto (em cabines operacionais) e segurança, já que é possível substituir a presença física pelo manejo de equipamentos a distância que realizam trabalhos de risco, a exemplo de pulverização.
Qualificar é preciso
De acordo com o último Censo Agro, de 2017, 15,5% dos produtores afirmaram nunca ter frequentado a escola e 79,1% não passaram do nível fundamental. No entanto, esse cenário precisa ser ajustado às novas necessidades.
Cabe também aos empresários do agronegócio incentivar e promover treinamentos, capacitações e especialização para os funcionários. As opções mais viáveis são cursos técnicos e profissionalizantes. Há várias opções segmentadas por área de atuação.
E, novamente, a tecnologia e a conectividade chegam para ajudar. Os estudos podem ser feitos de forma online, de qualquer local e a qualquer momento.
Uma das referências nesse sentido é o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), que oferece mais de 50 cursos dos mais diversos temas com foco em agricultura e de forma gratuita. O aluno tem acesso ao material didático, videoaulas, atendimento personalizado e recebe certificado.
Entre os benefícios de treinar as equipes para o uso das tecnologias estão:
- Manuseio correto das máquinas;
- Diminuição de perdas e manutenções;
- Menos risco de acidentes, já que o profissional está apto para aquela função;
- Menor rotatividade da equipe, pois os trabalhadores se sentem mais confiantes.
Conclusão
A tecnologia chegou ao agronegócio facilitando o serviço nos campos, mas também trazendo uma necessidade de remodelação do perfil e da qualificação do trabalhador rural. As vantagens para o funcionário agrícola é a troca do serviço braçal pelas novas formas operacionais.
Porém, é preciso capacitação para que os funcionários saibam utilizar as ferramentas atuais e se sintam aptos ao novo jeito de trabalhar. Nada melhor do que treinamentos e atualizações para que esse profissional se destaque e contribua ainda mais com a produção.
Matéria originalmente publicada Por Daniella Grinbergas para o
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